Produced by Tiago Tejo
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LISBOA
Na Offic. de LINO DA SILVA GODINHO.
Com licença da Real Meza da Commissão Geralsobre o Exame, e Censura dos livros.
Horridas sombras, horridos vapores,
Que enlutais estes ares carregados
Por onde vão fogindo os meus clamores;
Sinistras Aves, que funestos brados
Espalhais de Cyprestes luctuosos,
Pela negra Tristeza bafejados;
A vós consagro os prantos dolorosos,
Que meus olhos derramão contra a dura,
Antiga ley dos Fados poderosos;
Antiga ley, que á feia sepultura
Arroja sem respeito, e sem piedade
A Virtude, a Grandeza, a Formosura!
Aspera ley, que a pobre Humanidade
N'um momento, n'um átomo arremessa
Ao centro da medonha Eternidade!
Tremendissima ley, que tão depressa
Troca em ais, e desgostos a alegria;
Troca a Purpura em luto, o solio em Eça.
Ah! Nunca amanhecera o cruel dia,
Esse dia fatal, que tu seguiste,
Noite de espanto, noite de agonia.
Téjo, que foste da Tragédia triste
O Theatro infeliz, que he do Thesoiro,
Que a meus olhos saudosos encobriste?
Ah! Não blazones das arêas de oiro,
Se em ti contens o Heróe, que ao proprio Marte
Esperava ganhar a palma, o loiro.
Jozé, que, reunindo a força, e a Arte,
Feros Brutos indómitos domava,
Sendo assombro de tudo em toda a parte;
Jozé, que os luzos Póvos alegrava,
E que, sem recordar-se da grandeza,
A todos brandamente agazalhava;
Jozé, com quem a sorte, e a natureza
Forão tão liberaes, e em quem luzia
Resto feliz da gloria Portugueza.
Oh lugubre Destino! Oh Morte impia!
Illustre, e velho Pai! Tua amargura
Quão rigorosa, quão cruel seria!
A macilenta clotho, a Parca dura
Te roubou para sempre o Filho amado,
O doce objecto da maior ternura.
Queixa-te, he justo, queixa-te do Fado,
O negro caso deploravel chora,
Em nossas faces pela Dor gravado;
Pragueja aquelle Monstro, que devora
Os miseros mortaes, dize-lhe… ah! antes
Antes a summa Providencia adora.
Adora a quem nos Astros scintilantes
Erigio, colocou seu Throno eterno,
O supremo Senhor dos Ceos brilhantes,
O Justo Deos, que com poder superno
Escondeo, ferrolhou perpetuamente
Os rebeldes espiritos no Inferno.
Elle, movendo o braço Omnipotente,
O filho te chamou, que merecia
Gloria immortal no Empireo reluzente.
Basta, excelso Marquez. Tua agonia
Pela Fé seja em fim modificada,
E por huma Christãa Filosofia.
Que tambem na minha alma atribulada
Oiço o rizo da candida Esperança,