OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUEZES
E
OS DE COLOMBO
TENTATIVA DE COORDENAÇÃO HISTORICA
POR
MANUEL PINHEIRO CHAGAS
SECRETARIO GERAL DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA
LISBOA
Typographia da Academia Real das Sciencias
1892
A festa do centenario de Colombo deve acimade tudo ser uma festa de justiça e um dos grandesjubileus da humanidade. Os centenarios dos grandeshomens e os centenarios dos grandes acontecimentossão as solemnidades com que se festeja sobretudoa chegada a cada um dos marcos milliariosda estrada, que até agora parece ser infinita,do Progresso. Lançando os olhos para o passado,vê-se que a humanidade não parou um só instantena sua marcha para um fim ainda hoje desconhecido.Parece ás vezes aos observadores superficiaesque ha epochas em que se recúa, porque se extingueuma luz que brilhava com immensa intensidade,ou porque retrocede uma ou outra das legiões[6]que formam o immenso exercito da especiehumana; mas, se ha umas que retrocedem, porqueestavam muito adeante das outras, estas em compensaçãoavançam e ganham o terreno perdido pelosseus companheiros de jornada. Se um clarão seapaga, outros ha que se accendem em pontos queaté ahi estavam immersos em trevas profundas. Onivel da humanidade restabelece-se como se restabeleceo nivel das aguas depois dos grandes cataclysmosque afundam as mais altas montanhas, eque deixam enxutas immensas planicies cobertasaté ahi pela vaga. Assim não ha um só dos grandescataclysmos historicos de que não resultasse umprogresso. Mudou-se a fórma da civilisação occidentalquando cahiu o imperio romano. Ao impulsodos barbaros alluiram-se as instituições e os monumentos,a sciencia e as lettras eclipsaram-se, masa alma humana illuminou-se com a irradiação doEvangelho que só n’essa raça virgem que vinha doNorte e do Oriente podia accender os candidos explendoresque foram como que novas estrellas nonosso firmamento moral, que foram a divinisaçãoda mulher e a apotheose da familia e ao mesmotempo a esperança immortal que expirára no mundoantigo podre de civilisação e que reviveu no mundobarbaro. Cahiam deante do alvião vandalico os monumentosmagestosos de Roma e as puras obrasprimas da Grecia, mas erguia-se envolta n’um nimbo[7]estranho de fé e de poesia a cathedral gothica, e recortavam-seem mil caprichos phantasticos as torrinhase as innumeraveis agulhas dos paços municipaes,em que a burguezia ostentava, em frente darealeza da espada, a realeza do trabalho. Desappareciamdebaixo dos codices monachaes as obras primasdos tragicos e as epopéas gregas, mas a almacomplexa da tumultuosa meia edade palpitava n