Os trinta e tantos annos decorridos do apparecimento desta novellaá reimpressão que ora se faz parece que explicam as differenças decomposição e de maneira do autor. Se este não lhe daria agora a mesmafeição, é certo que lh'a deu outr'ora, e, ao cabo, tudo pode servir adefinir a mesma pessoa.
Não existia, ha muito, no mercado. O autor acceitou o conselho deconfiar a reimpressão ao editor dos outros livros seus. Não lhealterou nada; apenas emendou erros typographicos, fez correcções deorthographia, e eliminou cerca de quinze linhas. Vae como saiu em 1874.
M. De A.
Ésta novella, sugeita ás urgências da publicação diaria, saiu das mãosdo autor capitulo a capitulo, sendo natural que a narração e o estylopadecessem com esse methodo de composição, um pouco fóra dos hábitosdo autor. Se a escrevêra em outras condições, dera-lhe desenvolvimentomaior, e algum colorido mais aos caracteres, que ahi ficam esboçados.Convem dizer que o desenho de taes caracteres,—o de Guiomar,sobretudo,—foi o meu objecto principal, senão exclusivo, servindo-me aacção apenas de tela em que lancei os contornos dos perfis. Incompletosembora, terão elles saido naturaes e verdadeiros?
Mas talvez estou eu a dar proporções muito graves a uma cousa de tãopequeno tomo. O que ahi vae são umas poucas paginas que o leitoresgotará de um trago, se ellas lhe aguçarem a curiosidade ou se lhesobrar alguma hora que absolutamente não possa empregar em outracousa,—mais bella ou mais util.
Novembro de 1874.
M. De A.
—Mas que pretendes fazer agora?
—Morrer.
—Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tãopouco....
—Morre-se. Quem não padece estas dores não as póde avaliar. O golpefoi profundo, e o meu coração é pusillanime; por mais aborrecivel quepareça a ideia da morte, peior, muito, peior do que ella, é a de viver.Ah! tu não sabes o que isto é?
—Sei: um namoro gorado....
—Luiz!
—.... E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha jádiminuído muito o genero humano, e Malthus perderia o latim. Anda, sobe.
Estevão metteu a mão nos cabellos com um gesto de augustia; LuizAlves sacudiu a cabeça e sorriu. Achavam-se os dous no corredor dacasa de Luiz Alves, á rua da Constituição,—que então se chamava dosCiganos;—então, isto é, em 1853, uma bagatella de vinte annos que lávão, levando talvez comsigo as illusões do leitor, e deixando-lhe emtroca (usurarios!) uma triste, crua e desconsolada experiencia.
Eram nove horas da noite; Luiz Alves recolhia-se para casa, justamenteno occasião em que Estevão o ia procurar; encontraram-se á porta. Allimesmo lhe confiou Estevão tudo o que havia, e que o leitor saberá daquia pouco, caso não aborreça estas historias de amor, velhas como Adão,e eternas como o ceu. Os dous amigos demoraram-se ainda algum tempo nocorredor, um a insistir