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A MÃO

E

A LUVA

Do

MACHADO DE ASSIS

da Academia Brasileira

Livraria Garnier
109, Rua do Ouvidor,109RIO DE JANEIRO
6, Rue des Saints-Pères, 6PARIS
COLLECÇÃO DOS AUTORES CELEBRES
DA
LITTERATURA
1919

ADVERTÊNCIA DE 1907

Os trinta e tantos annos decorridos do apparecimento desta novellaá reimpressão que ora se faz parece que explicam as differenças decomposição e de maneira do autor. Se este não lhe daria agora a mesmafeição, é certo que lh'a deu outr'ora, e, ao cabo, tudo pode servir adefinir a mesma pessoa.

Não existia, ha muito, no mercado. O autor acceitou o conselho deconfiar a reimpressão ao editor dos outros livros seus. Não lhealterou nada; apenas emendou erros typographicos, fez correcções deorthographia, e eliminou cerca de quinze linhas. Vae como saiu em 1874.

M. De A.


ADVERTÊNCIA DE 1874

Ésta novella, sugeita ás urgências da publicação diaria, saiu das mãosdo autor capitulo a capitulo, sendo natural que a narração e o estylopadecessem com esse methodo de composição, um pouco fóra dos hábitosdo autor. Se a escrevêra em outras condições, dera-lhe desenvolvimentomaior, e algum colorido mais aos caracteres, que ahi ficam esboçados.Convem dizer que o desenho de taes caracteres,—o de Guiomar,sobretudo,—foi o meu objecto principal, senão exclusivo, servindo-me aacção apenas de tela em que lancei os contornos dos perfis. Incompletosembora, terão elles saido naturaes e verdadeiros?

Mas talvez estou eu a dar proporções muito graves a uma cousa de tãopequeno tomo. O que ahi vae são umas poucas paginas que o leitoresgotará de um trago, se ellas lhe aguçarem a curiosidade ou se lhesobrar alguma hora que absolutamente não possa empregar em outracousa,—mais bella ou mais util.

Novembro de 1874.

M. De A.


Indice

A MÃO E A LUVA


I

O fim da carta.

—Mas que pretendes fazer agora?

—Morrer.

—Morrer? Que ideia! Deixa-te disso, Estevão. Não se morre por tãopouco....

—Morre-se. Quem não padece estas dores não as póde avaliar. O golpefoi profundo, e o meu coração é pusillanime; por mais aborrecivel quepareça a ideia da morte, peior, muito, peior do que ella, é a de viver.Ah! tu não sabes o que isto é?

—Sei: um namoro gorado....

—Luiz!

—.... E se em cada caso de namoro gorado morresse um homem, tinha jádiminuído muito o genero humano, e Malthus perderia o latim. Anda, sobe.

Estevão metteu a mão nos cabellos com um gesto de augustia; LuizAlves sacudiu a cabeça e sorriu. Achavam-se os dous no corredor dacasa de Luiz Alves, á rua da Constituição,—que então se chamava dosCiganos;—então, isto é, em 1853, uma bagatella de vinte annos que lávão, levando talvez comsigo as illusões do leitor, e deixando-lhe emtroca (usurarios!) uma triste, crua e desconsolada experiencia.

Eram nove horas da noite; Luiz Alves recolhia-se para casa, justamenteno occasião em que Estevão o ia procurar; encontraram-se á porta. Allimesmo lhe confiou Estevão tudo o que havia, e que o leitor saberá daquia pouco, caso não aborreça estas historias de amor, velhas como Adão,e eternas como o ceu. Os dous amigos demoraram-se ainda algum tempo nocorredor, um a insistir

...

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